sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O PRINCIPE DE MAQUIAVEL E SUAS LIÇÕES



Por George Bull
do Financial Times

Tradução
e adaptação de Juscelino V. Mendes


As páginas incisivas de O Príncipe apresentam uma série de máximas que quem inicia um negócio faria bem em decorar. São normalmente reconhecidas como surpreendentemente válidas por guerreiros veteranos de empresas – em especial se sofreram desastres em suas carreiras por terem-nas desconsiderado.

Várias delas enquadram-se na categoria de conselhos estratégicos. Quando um conquistador assume o controle de um Estado (em termos modernos, quando alguém assume o controle de uma empresa), Maquiavel escreve que ele deve executar as tarefas mais difíceis de imediato.

Deve-se notar aqui, que, ao apoderar-se de um Estado, o conquistador tem de determinar as ofensas, que precisa executar, e faze-las todas de uma vez para não ter que repeti-las todos os dias. Assim, poderá incutir confiança nos homens e conquistar-lhes o apoio com benefícios.1


Desde o começo, o novo líder deve estudar persistentemente seu território e planejar para contingências no caso de ataque. Acima de tudo, nunca deve desviar sua mente da guerra, mesmo quando está na paz:

Filopêmene, príncipe dos Aqueus, dentre as qualidades que os cronistas lhe deram, tinha a de, nos tempos de paz, jamais deixar de pensar em coisas de guerra. Passeando no campo, com amigos, detinha-se às vezes e os interpelava: ¾ Enfim, formulava todas as hipóteses possíveis em campanha, escutava-lhes a opinião, dava a sua, firmava-a com razões e exemplos, de modo que, graças a essas contínuas cogitações, quando se achava à frente de seus exércitos, nunca topava acidente que não tivesse previsto e para o qual, assim, não tivesse remédio.2


A melhor parte do conselho estratégico em todas as páginas de O Príncipe é a simplicidade em si e talvez, por isso, ignorada com surpreendente freqüência tanto nos negócios como na política de nossos dias. Ela complementa o conselho de que é preciso ter um plano de negócios e um grupo de estudos (mesmo se for um grupo de estudos de uma só pessoa). Ela é: nunca esquecer que os tempos mudam e que as diretrizes mudam com eles. Maquiavel argumenta sobre esse princípio da seguinte maneira:


Restringindo-me, porém, aos casos particulares, digo que hoje se vê o sucesso de um príncipe e amanhã a sua desgraça, sem que tivesse havido mudança na sua natureza, nem em algumas das suas qualidades. Julgo que a razão disso, como antes se disse, é que, quando um príncipe se baseia inteiramente na Fortuna, arruína-se conforme as variações dela. Também tenho por feliz o que combina o seu modo de agir com as particularidades dos tempos, e infeliz o que faz divergir dos tempos a sua maneira de agir.3


Obviamente, é um conselho muito relevante para primeiro-ministro e presidentes de empresa. Mas também é vital para fundadores de novos negócios. Como os príncipes de Maquiavel, eles precisam aprender cedo nas suas carreiras de negócios a necessidade de adaptabilidade tática, determinação e ousadia.

A adaptabilidade já foi mencionada. A determinação, Maquiavel recomenda com a citação do mau exemplo do imperador Maximiliano, que era excessivamente fechado e se desviava facilmente de suas metas, de modo que “Resulta daí que as coisas que faz num dia destrói no outro e que nunca se saiba o que ele pretende e ninguém pode prever as suas decisões”4

A ousadia, por sua vez, é vital para o sucesso, já que metade dos atos dos homens é norteada por sua própria capacidade e agressividade e metade pela fortuna (como qualquer magnata bem-sucedido confirmará). E a fortuna, Maquiavel afirma no seu modo machista, é uma mulher que deve ser surrada para que dê o máximo de si.

Mais chocante ainda, Maquiavel aconselharia o principiante em negócios a aprender de sua experiência florentina do mundo perverso duas coisas ruins: que medidas brutais são freqüentemente exigidas para o sucesso e que estas devem ser adotadas tendo em vista as metas finais da pessoa; e que poucas pessoas são dignas de confiança. Pode-se fazer esta generalização sobre os seres humanos:

Porque os homens são em geral ingratos, volúveis, dissimulados, covardes e ambiciosos de dinheiro, e, simuladores; enquanto lhes fizerem benefícios, estão todos contigo (...). Quando, porém, a necessidade se aproxima, voltam-se para a outra parte (...), por ser o amor conservado por laço de obrigação, o qual é rompido por serem os homens pérfidos sempre que lhes aprouver, enquanto o medo que se infunde é alimentado pelo temor do castigo, que é sentimento que jamais se deixa.5


Milhões de palavras foram escritas para discutir se Maquiavel era um imoral ou amoral em seus conselhos, como freqüentemente parece. O Príncipe é um pequeno livro de idéias, complexo, compacto como uma barra de dinamite, com máximas políticas explosivas e, também, para os homens de negócios de hoje, com conselhos muito sensatos e práticos – inclusive como evitar bajuladores e depender dos seus próprios recursos.

Estudado cedo, pelo menos aguçará o raciocínio. Bem obedecido, ajudará a produzir sucesso.

(1)Niccoló MACHIAVELLI, O Príncipe (Comentado por Napoleão Bonaparte), p. 55. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Hemus, 1977.

(2) Ibid., p. 84.
(3) Ibid., p. 143/144.
(4) Ibid., p. 136/137.
(5) Ibid., p. 94/95

Milhões de palavras foram escritas para discutir se Nicollò Machiavelli era um imoral ou amoral em seus conselhos, como freqüentemente parece. O Príncipe é um pequeno livro de idéias, complexo, compacto como uma barra de dinamite, com máximas políticas explosivas e, também, para os homens de negócios de hoje, com conselhos muito sensatos e práticos – inclusive como evitar bajuladores e depender dos seus próprios recursos.  

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

São Paulo - Habitat de Raças

                             São Paulo Brecheret s Men

'São Paulo... ufanava-se de haver sido núcleo de irradiação da posse do Brasil 
até as fronteiras dilatadas pelo ciclo dos bandeirantes"

Menotti del Picchia 

Habitat de raças que engalanam
becos, jardins, favelas e praças
de difícil vida e se ufanam
de pertencer a ricas massas.


Em meio às suas entranhas
corre um rio que não corre,
inundado por frias sanhas
de homens, e morre.


Buscam-se cores em
quadro negro, tristemente
enfumaçado que vem
de carros e fábricas. Inclemente !


Altaneira, contudo, segue
à busca de sobrevivência,
na esperança de que chegue
o dia que lhe prestem reverência...

Quem melhor canta a cidade São Paulo? Os baianos dentre eles. Sim, meus caros e caras, os baianos Caetano Veloso e meu amigo Tom Zé. Mas a cara de São Paulo mesmo são os Demonios da Garoa. "Premeditando o Breque" tambem o faz maravilhosamente bem no vídeo abaixo postado.
Amo a cidade de São Paulo. E sofro. E detesto o seu trânsito. E detesto o seu rio sujo e lúgubre. Mas amo a cidade de São Paulo. E sofro de novo. E assim, neste amálgama de sentires vários, amo de novo a pauliceia desvairada. E o Corinthians Paulista!

 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Liberdade

                           Saudades de um dia de verão


Minha liberdade

Empinada no ar -

Na velocidade

E ritmo das ondas do mar -

Naquele papagaio de papel e linha.



domingo, 17 de janeiro de 2010

O presídio

Panoptic Surveillance - Bentham's Prison Design


As seis portas de puro aço foram cerradas atrás de si. Um frio gelado se lhe percorreu espinha afora, denunciando o que o esperava naquele lugar lúgubre e tenebroso. Os carcereiros, com suas faces de desencanto e suados, abriam as portas e o encaminhavam para aquela jaula humana com movimentos treinados e atentos sempre para o pior. Perceberam o nervosismo do visitante atônito. Este, com vontade de recuar, mas disposto a conhecer o que tanto lera e ouvira falar, seguiu em frente naqueles corredores quentes e mormacentos. De repente, viu-se em meio aos encarcerados. Fez de conta que estava à vontade, embora fosse difícil esconder de sua face o asco daquele lugar, daquelas pessoas. No entanto, continuou caminhando no meio deles, dando-lhes Novos Testamentos, que, assim como crê, podem ajudar a transformar as suas vidas, já que naquele lugar horrendo, de calor insuportável, só se pode esperar o pior como acréscimo de suas mentes e corações doentios para o mal. Suas faces jovens e carrancudas, envelhecidas pela maldade, dão o toque visível de suas insatisfações com a vida em cativeiro. Nada esperam, a não ser o momento apropriado para se colocar em fuga, seja por motim ou por algum suborno acertado com alguém que tem a responsabilidade de trancafiá-los. Tudo é parado, combinando com o ar de mormaço nauseabundo. No pátio, roupas rotas dependuradas no varal também estavam quietas pela falta de vento e pareciam tristes. As celas de duas pessoas, comportavam quinze apinhadas feito ratos em porões abafados. Alguns, por "bom comportamento", como lhe disse um dos carcereiros, jogavam cartas no chão do corredor ovalado e apertado. Estavam também quietos, obedientes, tristes, largados. Não se via neles nenhuma esperança, nem mesmo a de uma vontade de fuga iminente. O visitante terminou a entrega dos Novos Testamentos, com a esperança de ter feito algo de bom naquele dia em prol daqueles homens. As portas agora lhe foram abertas desta feita para a liberdade. As batidas secas dos portões de aço bruto continuaram a ressoar em seus ouvidos, combinando com as batidas descompassadas de seu coração livre daquele lugar; os olhos daqueles homens jovens continuaram a encará-lo, mesmo que estivessem àquela altura folheando os Novos Testamentos que falam de Jesus de Nazaré; a mistura de esperança na humanidade e a desilusão daquela tarde de dezembro, hão de acompanhá-lo até o seu conforto e encontro com a sua família. Afinal, sentiu-se útil e aliviado na sua alma.



Escrevi este texto, após sair de uma visita ao então maior presídio de Campinas. Fui lá apenas para conhecer os meandros de uma grande prisão, e, sobretudo, levar uma pouco de esperança para aqueles jovens fortes, destemidos, mas de corações duros e almas voltadas para o mal aos seus semelhantes e a si mesmos. Entreguei-lhes vários exemplares do Novo Testamento. Se todos nós nos voltássemos e seguíssimos os ensinamentos de Jesus Cristo, não necessitaríamos de nenhuma prisão, seja a interna, seja a externa, na vida.


sábado, 16 de janeiro de 2010

Haverá passado algum?


Tempo sem verso
é este!
epopéia adversa
pergunta
à hora imersa:

No futuro
haverá passado algum?


sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Jóias cintilantes



Um vislumbre
Um bruxulear aqui e além
Jóias cintilantes
Olhos de um tempo que era
Não será mais
Coração feito flor
Murchara e morrera
Na terra já violada e
Ruas feridas
Cheiro de morte!
Os espanhois (brancos), no passado, e, mais proximamente, os norte americanos (brancos) no começo do século XX, saquearam as riquezas e escravizaram os negros do Haiti e  da República Dominicana. Agora, passam-se por herois na solução da desgraça, que a natureza intenta e faz reviver. E o Brasil? Ora, o Brasil não cuida nem dos seus!...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Eu era meu brinquedo




Meu brinquedo
Eu
Era meu brinquedo:
Nas enxurradas
Nas tanajuras
Nas barrocas
Nas areias -
Que desciam da serra e ficavam -
Nos arcos-íris
Nos pirilampos
Nas bolas de meia
Nos babas
Nas bolas de gude
Nos piões
Nas borboletas amarelas:
Matérias-primas de meus castelos
Que desvaneciam tão rápido quanto meus sonhos
Em Conquista.
Eu era o que restava de alegria,
Imitando os pássaros,
Curumim de mim mesmo e
De minhas circunstâncias.
Eu,
Meu brinquedo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Lirismo Abissal - Kind of Blue - Miles



Liberdade melodia,
Jazz modal:
Aporia.
Arte em som.
É cool fenomenal
So What, à música o tom:
Miles,
Coltrane,
Kelly,
Evans,
Chambers,
Cobb e
Cannonball.
serpenteiam no lirismo abissal
de Kind of Blue!...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mais quente que o beijo do sol da Bahia


Meu poema ao som da lira
Enche a sua boca subjetiva
De meus sentires bucólicos,
Elegíacos, de amores todos.

E de mim a doce certeza,
Mais quente que o beijo do sol da Bahia,
Que minha vida o dia
Aproxima-se a noite:

Uma endecha ao meu canto
Em cordas de ouro.

Huimaitá - Salvador - Bahia

Silêncio das horas

Ah! Silêncio...
das horas,
dos ventos,
das chuvas;
das calmas,
das chamas,
das dúvidas...

Ah! Silêncio!
E a saudade que estranhamente me envolve.


Juscelino V. Mendes

sábado, 2 de janeiro de 2010

Vida ordeira





Vida ordeira, muito só.

Arrefece a incitação
 
de escrever composição
 
em casa de minha avó.

 
Parece-me alucinação
 
a vida caótica de ator:
 
é o melhor desafiador
 
de minha imaginação.



 

Metáforas do desejo



Na aspereza dos dias


Somos o champanhe:


Leves, etéreos, lúdicos


Efervescentes, borbulhantes,


Cúmplices do tempo,


Kierkegaardianos,


Ou a enteléquia


Aristotélica?


Metáforas do desejo submetidos às carências!


Dialética da vida




E a pele se tornou pálida,

Na concentração da beleza do amor.

A entropia se nos apareceu,

E a repleção da falta

Na saciedade dos desejos:

Em traços dionisíacos e apolíneos

Engalanavam-se na dialética da vida.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Curvas Perigosas


"Uma da tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real; daí viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa." –  (II Samuel 11: 1-27)


A água desce
vagarosamente
sobre um corpo quente
gota em gota

absorvente que envolve
como quem se delicia
em barco à deriva

em rio calmo
de curvas perigosas.

Uma tentativa de descrever o sentimento do rei Davi ao olhar Betseba banhar-se e ficar enlouquecido para a prática do pecado e consequente crime.

Alameda Casa Branca


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A Carlos Marighela¹


Há um olhar lá da costa,
Que se põe em mim e roga:
Um sentir sem temporais...
E de ondas secretas.

Terra em transe: Guerrilha
Urbana, Ana!
Emboscada na alameda
Casa Branca manchada de sangue.

Atiraram nas Letras Nacionais
Naquele novembro de quatro
E entregue à Casa Branca!




¹ Carlos Marighella, líder da ALN, assassinado em emboscada armada por Sérgio Paranhos Fleury, delegado da ditadura brasileira, no dia 4 de novembro de 1969.