domingo, 31 de outubro de 2010

Sem ecos no silêncio agora

Donde no hay ecos el silencio es tan horrible como esse peso que no deja huir, en los sueños.

La Invención de Morel

- Adolfo Bioy Casares



Saboreamos pelo tempo vivido
a parca alegria oferecida
neste palco de tábua embevecida
no pulsar de coração aturdido

Tristezas ensolaradas, frias
passagens de tempo presente
de vivências pretéritas no ingente
afã de buscar significado nos dias

Astros movidos por leis particulares,
dependentes de vãs lembranças
que desmoronam frágeis pilares


De dor em dor; em desesperança:
desarmonia de ossos e nervos
em bucólicos vilares.



Juscelino V. Mendes








segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O poeta e a rosa



"Rosa, oh pura contradição, volúpia de ser o sono de ninguém sob tantas pálpebras"
(Rainer Maria Rilke)




O poeta é o combustível,
a rosa pura física.
A poesia é fogo
que da chama de ambos nasceu.

Impossível foi evitar-se

o nascimento da chama
da rosa.

Impossível será evitar-se

que o fogo dele nascido se torne poesia.


Juscelino V. Mendes


Mendes, Juscelino V. – O Poeta e a Rosa. Livro de poesia filosófica e haicais, Poemas Reunidos, Balé do espírito, Editora Komedi, p. 84.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Eu choro















Cada mineiro que sai,
Chile,
Eu choro -
Humanidade,
Alegria infinita.

Cada assaltado que cai,
Brasil,
Eu choro -
maldade,
Tristeza infinita.


Imagem "La Nacion" - http://jornais.prensamundo.com/ver.php?url=http://www.lanacion.cl

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mulato



Mulato feito

a jato


que não gostou


do fato.



Que fato?


que se amou


mais o jato


que o f-ato!...




Juscelino V. Mendes



“A ação é centralizada no vendedor que expõe a ‘mercadoria’ aos seus clientes. Senhoras com ares arrogantes, munidas de sombrinhas, cutucam os quadris das negras, enquanto as mãos intrusas do comprador apalpam o corpo seminu da escrava sob o possível pretexto de verificar a ‘qualidade do produto’. (...). A cena recupera melancólica particularidade do sistema escravocrata no Brasil.”  In O OLHAR EUROPEU – O Negro na Iconografia Brasileira do Século XIX – Boris KOSSOY e Maria Luiza Tucci CARNEIRO, p. 57. São Paulo: Edusp, 1994.

Escrevi este poemeto num suspiro só, após ler o interessante livro supra mencionado. E também por saber de algumas notícias fragmentadas da infância.

Nascer sem ser querido ou querida, é das coisas mais tristes que alguém pode enfrentar, especialmente no início da vida. É ser marcado com tinta difícil de ser apagada.

domingo, 3 de outubro de 2010

Chamas da vela


Bice


Velas!
Cores!
Silêncios...
Monotonia quebrada do viver sem descobrir:
carícias plantadas
colhidas em beijos,
toques selvagens guardados,
grudados,
entoando alegria
"
Also sprach Zarathustra", Op. 30
Richard Strauss sem prelúdio.

Imagens de poemas de Joyce, Rilke e Dante;

da
sinfonia três de Henryk Górecki;
flores em alpendres antigos,
essências flutuantes e
desvarios de mel.

Chama da vela que nunca se apaga!...

E nas paredes, não havia Renoir nem Rembrandt,
mas...

Beijos de amor cravados


Juscelino V. Mendes



Pintura: Rubens Gerchman - Arte: http://www.ignezferraz.com.br/mainportfolio4.asp?pagina=Artigos&cod_item=874.