sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tous les Matins du Monde

"A vida é bela à medida que é feroz"¹



Não há volta nas manhãs,
Nos rios, nos perfumes,
Flores, gestos, sorrisos.

Não há encanto no futuro
Passado, ondas, brisas,
Afagos e ternuras.

Delicadezas flutuantes,
Flechadas profundas:
Tílias, tílias...

Não há promessas, Saint,
Marais, sons eternos,
Instantes, instantes...

Fantasias no espaço sideral
Nada no empírico,
Névoas coloridas.

Pássaro sem canto,
Mutação de penas,
Olhar de brilho fugidio:

Madeleine, sétima corda
Partida em laços febris e
Busca de tempo nenhum.






Juscelino V. Mendes


¹Do filme: Todas as Manhãs do Mundo (Tous les Matins du Monde, França, 1991. Direção: Alain Corneau. Com: Gerard Depardieu e Anne Brochet).
"Todas as manhãs do mundo"

No século 17, um músico da corte de Luiz XIV, Marin Marais (Depardieu), relembra sua introdução no mundo artístico supervisionado pelo seu rigoroso mestre de viola de gamba, Sainte Colombe (Jean-Pierre Marielle).
Assisti a esse belo filme e compus, ao final, este poema. As suas imagens, diálogos, silêncios, ficaram vivos em minha memória e tentei verbalizar tudo isso o melhor possível. Espero ter conseguido. O filme é adaptação do maravilhoso livro do escritor francês de formação filosófica, Pascal Quignard.


2 comentários:

Jairo Cerqueira disse...

Não tive a oportunidade de assistir ao filme, mas tenho privilégio de te ler.
Um abraço, amigo!

ferreiralopes disse...

Cá estou eu, nesta manhã de sábado, distraindo-me por aqui... Espero agora que o seu gato esteja refeito. Também li Inês Pedrosa, gosto muito! E a sua poesia interessou-me bastante. Um abraço amigo.