quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sonhos pretéritos











Quando sinto a finitude
se aproximar, recolho-me,
olho para o mar
em gratidão.

Acolho-me
em sonhos pretéritos.

Juscelino V. Mendes




sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Encontro


(p/ Juscelino Mendes)


"Et puis attendre que l'oiseau se décide à chater"
(J.Prévert)


Quando te vi era silêncio.
Nos versos de um poeta, as vozes se encontraram.
No murmúrio das imagens, os sorrisos se acenderam.

Nas luzes das palavras,
Um pássaro voou.

Teceu-se o poema do encontro:
Num sopro de liberdade,
A amizade cantou...
Na sombra de lento encanto,
Na paz de um doce caminho,
A promessa do sempre ecoou.

Sigamos assim, cantando pela vida...
Pois o fim do poema é a volta do silêncio.
Apagam-se as palavras
E o branco mudo da página
É o sono de quem fala
É a morte de quem cala.


Lília Chaves, poeta.


Mimo de minha amiga, em 20/04/97.
Agradecimentos pelo carinho, sempre...




sexta-feira, 7 de outubro de 2011

És pura elegia!




(p/ Steve Jobs)


És implacável,

Inexorável.


Não te importas com o tempo:


Escolhido.


Vivido.


Sofrido.


És pura elegia!

Juscelino V. Mendes


A inexorabilidade da partida, não obstante os desejos vãos, ou nãos; a construtividade na descoberta da ciência; a filosofia da vida, enfim. Obrigado, Steve Jobs, por tornar a nossa existência mais fantástica com suas descobertas!...



sábado, 3 de setembro de 2011

Dialética X Retórica



Pensando rapidamente sobre alguns ensinos de Aristóteles, temos que sempre que atacamos ou defendemos uma opinião, fazemos dialética, ou seja, é a parte nobre de qualquer discussão que se pretenda importante no desenvolvimento das pessoas, como partícipes na busca de um mundo melhor, como diria Karl Popper. Por outro lado, sempre que acusamos ou nos defendemos, fazemos retórica. Infelizmente, nisto consiste a maioria das discussões, tornando o mundo menos interessante e estressante.


Juscelino V. Mendes

domingo, 31 de julho de 2011

Áurea serenidade


Comibus est oculis alliciendus amor  
                         (Ovídio)


Vem, oh áurea serenidade
Tu, o mais secreto
Doce antegozo do amor!

É demasiada a distância?
Agora alcança ainda mais o teu olhar!
E vem ao meu encontro a tua fragrância.

Juscelino V. Mendes





quinta-feira, 21 de julho de 2011

Um tempo que parou no tempo



Um espaço

Um Argos

Um rosto

Uma flor

Uma canção

Uma visão pelas frestas

Um tempo que parou no tempo

Juscelino V. Mendes


sexta-feira, 8 de julho de 2011

OS PASTORES





A sua memória oscilava como naqueles dias chuvosos, enegrecidos pela forma e pelo conteúdo. O dia, quando vestido assim, torna-se apenas um espaço usado pelas máscaras das nuvens com seus lençóis escuros. Assim era a vida daquele homem: um corpo que carregava um ser ausente de si mesmo; ausente do que fora capaz outrora; ausente do seu habitat.

Sinuosos meandros percorriam os rios de sua alma, a ponto de procurar-se a si mesmo e irritando-se por não se encontrar. Não lograva êxito nessas buscas, porquanto a cada dia se via ainda mais perdido. Era uma busca penosa e dolorida, especialmente para os que o assistiam e assistiam-no permanentemente nesse ir e vir da ausência.
Os desvãos de sua memória se tornavam cada vez mais largos, feito àquelas rachaduras deixadas pelos abalos sísmicos, á medida que ia em frente naquela busca desenfreada e cruel. Qual terá sido o seu abalo sísmico, perceptível apenas por ele mesmo, e que terá deixado marcas tão profundas? Nunca saberemos, a menos que entrássemos por aqueles desvãos como um garimpeiro em busca de ouro.

Certo domingo de manhã fora à igreja. Curiosamente, louvava a Deus que o criara, que o salvara, de uma forma tão grandiosa que poucos criam tratar-se de um desmemoriado. Não pelo louvar em si, mas pela forma de faze-lo, pois cantava hinos, cujas letras vinham e voltavam como água límpida de um rio calmo e sereno, como se se tratasse de uma memória de anjo. Alternava, contudo, para momentos surpreendentemente inusitados, como naquele em que, ao ler o boletim dominical com a ordem do culto, deparou-se com o nome do pregador daquela manhã e ficou muito surpreso e disse para que todos ao seu redor ouvissem:



-
Como pode constar aqui o meu nome como pregador se não fui sequer convidado?

O nome era exatamente igual ao seu. Homônimos há às pencas por todos os lugares como sabemos. O problema, todavia, não estava na homonomia, mas no fato de o pregador daquela manhã ser o seu próprio filho! Sim, seu filho júnior, também pastor de reconhecida notoriedade, embora não o fosse mais pelo seu próprio pai ausente, não obstante estivem ambos ali sob o mesmo teto daquele templo.


Naquele mesmo dia, o filho fora se hospedar na casa de seu pai e não sabia o que o aguardava. Eis que aquele homem, tristemente, comunicava-o de que tinha um filho com o seu nome e que era também pastor noutra cidade. Um homem de Deus, dizia-lhe, de quem muito se orgulhava, no sentido mais terno da palavra de um pai presente. O filho, conquanto já se acostumando com aquela situação, típica de um filme de Buñuel, tinha vontade de sumir como uma bolha de sabão ao vento. Pensava se aquilo não poderia ser hereditário, reiniciando o drama com os seus próprios filhos um dia. Quisesse Deus que não. Que sua memória pudesse florescer como a de seu pai em áureos tempos e a sua agora.

Seu pai, na verdade, pela graça de Deus, viveu por mais algum tempo, tropeçando em suas lembranças, feito uma criança em seus brinquedos, alegre e feliz, satisfeito por ter alguém com quem pudesse compartir a sua história fantástica de que tinha um filho pastor com o seu próprio nome. 

Juscelino V. Mendes




Sobre a obra

Após ouvir de meu amigo Fausto Aguiar de Vasconcelos, teólogo de oratória ímpar, e exegeta de primeira, sobre o fim da vida de seu pai, que perdera a memória, escrevi em sua homenagem este singelo conto-poético.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Amor recíproco


(Para Lucas Miluzzi)

Criatura divina,
Em-si-mesma-mento
Cerebral – veio a lume.

Alheamento,
Não do coração,
Repleto de emoção – veio a lume.

Reflete e causa
Ensimesmamento
De coração.

Alheamento
De queridos em presença
Cerebral – veio a lume.

Repletos de emoção
Em amor recíproco
Sacramento de comunhão – veio a lume.

Juscelino V. Mendes


Festa de aniversário do Lucas,
14 de maio de 2011.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A febre política



"Cometo um crime e sou o primeiro a clamar por justiça. Os males que faço em segredo faço cair sobre os ombros dos outros." - Ricardo III - (William Shakespeare).






Nossa cidade de Campinas está quente com febre política. A infecção vem sendo conhecida a cada dia, com os nomes dos agentes nocivos causadores dessa infecção. Um deles, seguindo a mesma toada do ex-presidente da República, nada sabe e não se considera um desses agentes nocivos. Nem mesmo sabe se a sua parceira de 40 anos está envolvida. Hoje em uma coletiva, via-se a áurea do poder desvanecida, rala, tosca, diante da febre e da derrocada iminente. Felizmente as nossas instituições, especialmente o Ministério Público, nos dão um pouco de esperança, diante de tanta gente que considera o povo como resto e as leis como empecilho. Espera-se, agora, que a Câmara Municipal, com a necessária decisão desta noite, faça o que tem de ser feito, consoante os ditames constitucionais. O nosso desinteresse em geral pela Política, fomenta a aparição desses agentes terríveis, febris, desumanos, sórdidos, canalhas e falsários da vida pública.
Juscelino V. Mendes
 



Imagem:http://fatosnoespelho.blogspot.com/2010/07/mulheres-infeccao-por-hiv.html