Se há algo no Brasil, que funciona de forma bastante organizada, é o pre-aviso para as tragédias. Faz parte de nossa cultura o descaso, o péssimo uso do dinheiro público e o afã pela corrupção. Há uma banalização de tudo isso, especialmente quando são atingidos os pobres e miseráveis de Victor Hugo. Neste caso, em geral, as coisas continuam no mesmo estado de antes daquela tragédia específica e anunciada, porque pobres, porque iletrados, porque não sabem reivindicar, porque menos brasileiros...
Entretanto, há uma rapidez na mudança de entendimento, providências são tomadas de imediato, pessoas são levadas às barras dos Tribunais e Leis são aprimoradas ou instituidas, quando as classes superiores são atingidas nessas tragédias, a exemplo dos argentinos em 2004.
Infelizmente, uma quantidade enorme de jovens bem nascidos em um Estado rico de nossa Federação precisaram morrer cruelmente, para que esse estado de coisas tenda a mudar em nosso País e as pessoas todas sejam devidamente respeitadas, bem nascidas, ou não.
A hipocrisia e as mentiras saltam aos olhos neste momento de desespero e agonia. Autoridades públicas (ir)responsáveis declaram sempre nada que ver com o problema e que cumprem as Leis. O discurso é sempre o mesmo.
No caso de Santa Maria, os pirotécnicos da banda "Gurizada Fandangueira" são, talvez, menos culpados do que os pirotécnicos fiscalizadores, em todos os sentidos, do Poder Público, mas estão sendo levados para a prisão, como se isso minimizasse o sofrimento das famílias enlutadas.
Na realidade, os que deveriam estar em prisão, de imediato, são aqueles que estavam fora daquele inferno em chamas e fumaça tóxica: os proprietários da "Boate Kiss", promotores do evento, fiscais, políticos próximos e distantes, que raramente se preocupam com o tratamento recebido pela população em geral, mas, sim, com o seu bem-estar e de seus parentes e amigos.
É bem provável que mudanças pontuais e radicais ocorram brevemente - e tomara que sim - em razão desta última desgraça nacional. Este é o Brasil das modernas arenas para a copa do mundo de 2014. O Brasil, feito a poesia de Cazuza, ainda precisa, de fato, mostrar a sua cara!
Juscelino V. Mendes
Um comentário:
É isso, professor.
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