quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DEVERAS A VIDA SE RENOVA

 


Já o ano que se faz novo
Adia um tempo que passou;
Deveras a vida se renova
E delicadamente me beija!
Bebo o beijo em taça de cristal
E no charme do amor,
Espraia-me o gesto
Espumante da vida!


Juscelino Vieira Mendes


*Dedico esse singelo poeminha a todas as pessoas, agradecidas pelo prêmio da vida, que Deus, com o seu incomensurável amor nos dá, ainda que não me sinta, em razão de tanta gente que se foi abatida pela Covid-19, e, usando um termo renovado por Sigmund Freud em seu texto "O ESTRANHO" - lembrado, generosamente, e em breve reflexão, por Priscila Malfatti -, muito "heimlich" para comemorações.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

THEATRUM BRASILIS - RES PVBLICA

Personagens:

Marcus Aurelius Mendes (O positivista - magistrado - imperador)
RAPsodus (O Rei dos torpores)
Federal Court Iustitiae Domini (STF)
Foederati vigilum (PF)
Plebs (A população)

Cena 1 - Marcus Aurelius Mendes - Sou um positivista lógico e esse homem de bem, RAP-RAP, em nome da lei, do direito e de minha vaidade, deve ser solto já!...

Cena 2 - RAP-RAP sai da prisão, com o seu gingado do poder explícito e pensando: "essa cena na prisão demorou mais do que o necessário. Ora, não participarei mais desse teatro em detrimento de meus negócios globalizados! Retirar-me-ei, e, se alhures alguém obtemperar de inopino, sua vida já era, tá ligado?".

Cena 3 - FCID-STF - Marcus não podia ter soltado o meliante! Determina-se, pois, que o RAP-RAP retorne à prisão. A ação ainda não terminou, ora!

Cena 4 - Foederati vigilum - Vamos tentar cumprir a diligência - buscas em todos os lugares conhecidos. O tempo urge! Com calma... Muita calma...

Cena 5 - Plebs (povo) - Gargalhadas! Somos todos tontos! Queremos pão e circo com a sensação da beta-fenetilamina... E como diria um personagem de Brecht:
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"Mas eu lhes pergunto: como podem os pobres ter moral, se eles não têm nada? É isso mesmo, como não será roubo qualquer coisa que eles peguem? Meus senhores, a força moral precisa de força aquisitiva, e basta aumentar a força aquisitiva, para aparecer a força moral..." [Joana - Personagem de Bertolt Brecht em "A Santa Joana dos Matadouros, p. 74, tradução de Roberto Schwarz).
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É o Fim.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

NA ESTULTÍCIE ME ESMERO

 

Meu mundo é o baixo clero,
Gosto do lero-lero,
Na estultície me esmero
Puseram-me no alto clero,
Resisto! Gosto do entrevero
Na estultície me esmero
Sem conhecimento, sou sincero
Nem sabedoria tolero
Na estultície me esmero
Não sou príncipe maquiavélico, nem austero
Mas consegui ser - é vero
Na estultície me esmero
A verdade de Deus adultero
Com irmãos da cloroquina, eu tempero
Na estultície me esmero
A mortífera ditadura 434 espero
À tortura meus inimigos numero
Na estultície me esmero


Juscelino V. Mendes

sexta-feira, 10 de abril de 2020

A PESTE NEGRA E O ISOLAMENTO SOCIAL

O século é o XIV. A doença é chamada de “Peste negra” e chegou à Europa no ano de 1346. Disseminava-se pelo contato; pneumônica, atingia os pulmões e era disseminada pela infecção respiratória.

A mortandade foi enorme. “Um terço do mundo morreu”, conforme relata a historiadora estadunidense Bárbara W. Tuchman (1912-1989)*:

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“Rigorosas medidas de quarentena foram tomadas por muitas cidades. Tão logo Pisa e Lucca foram atingidas, a vizinha Pistóia proibiu aos seus cidadãos que estavam nessas cidades que retornassem, proibindo também a importação de lã e linho. O doge e o Conselho de Veneza ordenaram que as sepulturas na ilha tivessem pelo menos um metro e meio de profundidade e organizaram um serviço de barcas para transportar os cadáveres.
A Polônia estabeleceu uma quarentena em suas fronteiras que lhe assegurou uma relativa imunidade. Medidas draconianas foram adotadas pelo déspota de Milão, o arcebispo Giovanni Visconti, chefe da mais audaciosa família de governante do século XIV. Ele mandou que as três primeiras casas onde a peste se manifestou fossem muradas com os seus ocupantes lá dentro, encerrando num túmulo comum os sãos, os doentes e os mortos. Se foi pela rapidez de sua ação, ou não, o fato é que Milão teve um reduzido número de mortos (...).
Mais comum eram as procissões de penitentes, autorizadas a princípio pelo papa, algumas com duração de até três dias, outras com mais de duas mil pessoas, que acompanhavam a praga por toda parte e ajudavam a espalhá-la. (...). Quando tornou-se evidente que essas procissões eram fontes de infecção, Clemente VI teve de proibi-las.

(...). O bacilo real da peste, ‘Pasturella pestis’, só seria descoberto quinhentos anos mais tarde. Vivendo alternadamente no estômago da pulga e na corrente sanguínea do rato que era hospedeiro da pulga, o bacilo, em sua forma bubônica, era transferido para os seres humanos e os animais pela mordida do rato ou pela picada da pulga.”.

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Mundo, século XXI, ano 2020: temos a 'nossa peste negra' denominada Covid-19. Em quase tudo se assemelham, notadamente na evidente demonstração de ignorância por muitos a seu respeito, no que concerne ao necessário isolamento social. Com as suas atitudes desumanas, estão atrasados ‘apenas’ seis séculos!

Juscelino V. Mendes


(*Barbara W. Tuchman, Um espelho distante, p. 95-101 / 1978).

O ESTOICISMO, A COVID-19 E A PROCURAÇÃO


Há muita gente contestando o obrigatório distanciamento social, sob vários argumentos, até o ponto de encarar, com certa apatia, a morte - desde que seja a morte de gente de outras famílias, que não a sua. Isso, além de desonesto, desumano e anticristão é de uma hipocrisia impressionante, sobretudo, porque estão dentro de suas casas, com as suas máscaras (nos dois sentidos) e tomando todas as precauções, com medo da Covid-19.

"No século IV a.C., a questão ética que preocupava os estoicos era como reagir à predominante sensação de fatalismo que brotava do fato de se viver num império rigidamente controlado. Eles não podiam fazer grandes mudanças em sua vida diária, então decidiram mudar de atitude quanto a vida em si. Era o único controle pessoal que lhes restava. O que os estoicos formularam foi uma estratégia de distanciamento emocional da vida. Chamavam essa atitude de 'apathia' e, para os estoicos, a apatia era uma virtude [como o é para muitos nestes dias de Covid-19], que os transformava em fonte de risos na taverna local. Os estoicos estavam dispostos a sacrificar alguns tipos de felicidade (sexo, drogas e hip-hop dionisíaco) a fim de evitar a infelicidade provocada por suas paixões (doenças sexualmente transmissíveis, ressacas e rimas ruins). Guiavam-se apenas pela razão, nunca pela paixão, e, portanto, consideravam-se as únicas pessoas realmente felizes - o que quer dizer que eram ininfelizes.

Na história abaixo, o Sr. Cooper demonstra uma forma moderna de estoicismo: o estoicismo por procuração.

O casal Copper entrou no consultório do dentista, onde o Sr. Cooper deixou claro que estava com muita pressa.

- Sem muita frescura, doutor - mandou ele. - Não precisa anestesia nem nada. Arranque o dente de uma vez e vamos acabar logo com isso.

- Que bom seria se meus pacientes fossem estoicos como o senhor - disse o dentista, admirado. - Então, qual é o dente?

- Sr Cooper virou para a esposa e disse:

- Abra a boca, querida."*



(* Thomas Cathcart & Daniel Klein. PLATÃO e um ORNITORRINCO entram num bar, p. 92-93).

E O POVO SE MANTEVE EM QUARENTENA...

O prefeito de Varginha-MG, Antônio Silva, quis entrar na onda do vale mais a economia, a comida, o emprego, blá, blá, blá, como se doente, ou morto pudesse trabalhar etc. e assinou decreto permitindo o funcionamento do comércio. O povo se rebelou contra ele e se manteve em quarentena. O prefeito renunciou.

Tomás de Aquino (1225-1274), ensina que a Lei humana é puramente convencional e relativa, altamente contingente, e que deve refletir o conteúdo das Leis Eterna e Natural.


E se estiver baseado na perversão da reta razão (como o decreto do prefeito e as determinações-atitudes do presidente da República), ou um conjunto de regras de autoridade que servem a um ou a poucos? Perderá, segundo Tomás, a sua força coativa dada pela natureza, preservando apenas o que lhe é dado por convenção e deve ser desobedecida.

O povo de Varginha agiu dessa forma, dando-nos o exemplo, que o Brasil todo deveria adotar. Esse é o verdadeiro exercício da cidadania; a crítica correta, isenta de ideologia 'non sense'...


quarta-feira, 25 de março de 2020

A COVID-19 E O PATETA

O pior presidente da República que o Brasil já teve (1967-69), chamava-se, Artur da Costa e Silva, aquele do AI-5, de 13/12/68.

Faziam-se piadas diversas sobre ele, enquanto se desenrolava o seu (des)governo, com atitudes pueris, atrocidades, violação dos direitos humanos e ignorância generalizada sempre exposta.

Jair Messias Bolsonaro (2019 -), com o que vem falando, desde que assumiu o governo, e, especialmente, ontem e hoje, sobre a miséria da Covid-19, superou o gaucho, Artur da Costa e Silva.



Jamais pensei que alguém pudesse superar aquele que já foi um dia chamado por Ulisses Guimarães, como um dos "três patetas."



sexta-feira, 20 de março de 2020

QUARENTENA NECESSÁRIA

Eu sempre gostei de ficar em casa. 
É um lugar que me deixa tranquilo, mas agora estou em prisão domiciliar, mais conhecida como “quarentena”.

É horrível sentir a falta da liberdade, do ir e vir, etc. como diria Charles Dickens (1812-1870), em seu magnífico romance, ‘Bleak House’ p. 299: 

“Tudo parece uma obliteração de marcos e um abrir de comportas e fendas na estrutura da sociedade”.

Só uma semana e já sinto fortemente essa destruição, 
a abertura dessas comportas e 
as fendas em nossa sociedade.

Nunca podia imaginar, que uma legião de vírus do capeta pudessem me dizer:

-mãos (sujas) ao alto!

-ahn?!

-então, teje preso!...