Eu escrevi no dia 16 de junho, a propósito de um jogo do Brasil, ainda na fase de grupos da Copa do Mundo 2014:
"Seleção emotiva, que não resistiria a racional alemã."
E resolvi escrever hoje depois um brevíssimo diálogo, com um garotinho lindo e cheio de sonhos:
Perguntei ao meu neto de 3 anos:
"Por que você está triste, Daniel?"
__"Porque o Brasil só fez 1; e o outro, um monte! Um monte!..."
Essa sensação de uma criança nos dá a exata dimensão do quanto essa derrota humilhante para a Alemanha nos entristeceu. Tivéssemos perdido esse jogo por um placar diminuto, jamais enfrentaríamos os nossos verdadeiros problemas estruturais tão visíveis para quem quiser enxergar o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues.
Em tudo podemos, querendo, extrair algo de positivo: a empáfia reinante no futebol brasileiro, parece, foi embora de vez; o técnico "pega-pega!" emocional, nunca mais!
Esse tipo de profissional não deveria ter mais lugar em nossos clubes e, muito menos, na seleção brasileira. Que não seja, amanhã, a nossa esperança uma esquivança.
O técnico de segundona escalou jogadores perdidos em campo, com um meio campo frágil e desnorteado pelos alemães. Em entrevista, ao final da partida, disse o técnico brasileiro que tanto fazia perder de 1, quanto de 7, é a mesma coisa. Ora, talvez tivesse imaginado uma partida de futebol de salão. Então devia ter convocado o craque Falcão!
Esse arremedo de seleção devia ter perdido nas oitavas de final: poupar-nos-ia de tanta vergonha e descalabro.
Neymar foi poupado dessa humilhação. É Ligar para o colombiano, que o retirou de campo, com aquela falta criminosa e agradecer. Esses jogadores da seleção voltam para os seus clubes e contas bancárias recheadas de euros, feito o Daniel Alves, que, na entrevista, na linha de seu técnico, parecia ter assistido a uma derrota qualquer.
E nós, torcedores? Ficaremos com a vergonha nacional e as belas arenas superfaturadas. O positivo de tudo isto é que só poderão culpar a Alemanha por essa falta de respeito e consideração em nossa própria casa. Aliás, a Alemanha foi educada, porque "tirou o pé", como dizemos na linguagem do futebol, e não nos aplicou uma goleada ainda mais humilhante.
As coisas só se modificam no Brasil, em todos os sentidos, quando há uma catástrofe. É assim também no futebol, que faz parte importante de nossa vida social. Acredito que esses sete gols da Alemanha nos farão muito bem, para que algo aconteça de positivo, desde a saída de dirigentes interesseiros, para dizer o mínimo, a mudança de princípios na mídia e permitam que a maioria dos torcedores brasileiros, de fato, divirtam-se.
Há, na realidade, um vazio disfarçado no excesso. E um clamor deveras exposto no silêncio, hoje, de quem imaginava pertencer a um País do Futebol, como sempre aprendemos desde a infância.
A loucura do poeta alemão Friedrich Hölderlin é tão encantadora quanto os labirintos do fantástico argentino, Jorge Luis Borges, e me fazem refletir à exaustão. A loucura dessa vitória alemã sobre a nossa seleção só será amenizada se a seleção argentina não ganhar esse mundial. Aí será demais!
Dizia C.S.Lewis: "Não deixe sua felicidade depender de algo que você possa perder". Lembrei-me desta frase sábia para diminuir a minha chateação e animar o meu neto.
Há um delírio prazeroso em olhar para o passado e indagar a si mesmo: "O que teria acontecido se...?". Dessentido prazer, pois, este de vivermos das coisas pretéritas e imutáveis.
Juscelino V. Mendes
3 comentários:
Belíssimo texto meu nobre Mestre, embora triste, ainda assim, belo.
Agradeço sua agradável visita, brother!
O Brasil...adormeceu nos louros conquistados...como Portugal assentou no seu jogador - o melhor do mundo - Nada na vida, nem no futebol, é ponto assente. É preciso lutar todos os dias e nisso, a Alemanha é boa...e não fica depois, apregoando os méritos!!
Osil (li hoje no jornal) não quis o seu prémio da vitória e doou a 23 crianças carenciadas...Frios? Não, bem estruturados de cabeça, pés e afinal...de coração!!
Um abraço
Graça
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