Panoptic Surveillance - Bentham's Prison Design
As seis portas de puro aço foram cerradas atrás de si. Um frio gelado se lhe percorreu espinha afora, denunciando o que o esperava naquele lugar lúgubre e tenebroso. Os carcereiros, com suas faces de desencanto e suados, abriam as portas e o encaminhavam para aquela jaula humana com movimentos treinados e atentos sempre para o pior. Perceberam o nervosismo do visitante atônito. Este, com vontade de recuar, mas disposto a conhecer o que tanto lera e ouvira falar, seguiu em frente naqueles corredores quentes e mormacentos. De repente, viu-se em meio aos encarcerados. Fez de conta que estava à vontade, embora fosse difícil esconder de sua face o asco daquele lugar, daquelas pessoas. No entanto, continuou caminhando no meio deles, dando-lhes Novos Testamentos, que, assim como crê, podem ajudar a transformar as suas vidas, já que naquele lugar horrendo, de calor insuportável, só se pode esperar o pior como acréscimo de suas mentes e corações doentios para o mal. Suas faces jovens e carrancudas, envelhecidas pela maldade, dão o toque visível de suas insatisfações com a vida em cativeiro. Nada esperam, a não ser o momento apropriado para se colocar em fuga, seja por motim ou por algum suborno acertado com alguém que tem a responsabilidade de trancafiá-los. Tudo é parado, combinando com o ar de mormaço nauseabundo. No pátio, roupas rotas dependuradas no varal também estavam quietas pela falta de vento e pareciam tristes. As celas de duas pessoas, comportavam quinze apinhadas feito ratos em porões abafados. Alguns, por "bom comportamento", como lhe disse um dos carcereiros, jogavam cartas no chão do corredor ovalado e apertado. Estavam também quietos, obedientes, tristes, largados. Não se via neles nenhuma esperança, nem mesmo a de uma vontade de fuga iminente. O visitante terminou a entrega dos Novos Testamentos, com a esperança de ter feito algo de bom naquele dia em prol daqueles homens. As portas agora lhe foram abertas desta feita para a liberdade. As batidas secas dos portões de aço bruto continuaram a ressoar em seus ouvidos, combinando com as batidas descompassadas de seu coração livre daquele lugar; os olhos daqueles homens jovens continuaram a encará-lo, mesmo que estivessem àquela altura folheando os Novos Testamentos que falam de Jesus de Nazaré; a mistura de esperança na humanidade e a desilusão daquela tarde de dezembro, hão de acompanhá-lo até o seu conforto e encontro com a sua família. Afinal, sentiu-se útil e aliviado na sua alma.
Escrevi este texto, após sair de uma visita ao então maior presídio de Campinas. Fui lá apenas para conhecer os meandros de uma grande prisão, e, sobretudo, levar uma pouco de esperança para aqueles jovens fortes, destemidos, mas de corações duros e almas voltadas para o mal aos seus semelhantes e a si mesmos. Entreguei-lhes vários exemplares do Novo Testamento. Se todos nós nos voltássemos e seguíssimos os ensinamentos de Jesus Cristo, não necessitaríamos de nenhuma prisão, seja a interna, seja a externa, na vida.
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