Nestes dias de condenação e encarceramento (?) de mensaleiros (nem precisamos mais das aspas), cito a apropriada palavra de Michel Foucault, sobre o encadeamento natural existente entre o delinquente e a própria lei, em simbiose perfeita:
"Nesta sociedade panóptica, cuja defesa onipresente é o encarceramento, o delinquente não está fora da lei; mas desde o início, dentro dela, na própria essência da lei ou pelo menos bem no meio desses mecanismos que fazem passar insensivelmente da disciplina à lei, do desvio à infração. Se é verdade que a prisão sanciona a delinquência, esta no essencial é fabricada num encarceramento e por um encarceramento que a prisão no fim de contas continua por sua vez. A prisão é apenas a continuação natural, nada mais que um grau superior dessa hierarquia percorrida passo a passo. O delinquente é um produto da instituição. Não admira, pois, que, numa proporção considerável, a biografia dos condenados passe por todos esses mecanismos e estabelecimentos dos quais fingimos crer que se destinavam a evitar a prisão."- (M. Foucault, Vigiar e punir, p. 249).
Mudando o que deve ser mudado, como diriam os latinos, o amálgama que há entre a Instituição e esses mensaleiros de categoria 'superior' é de uma clareza tropical impressionante! Melhor seria a "humilhação" da devolução, centavo por centavo, do dinheiro furtado ao Erário, aproveitando comemoração deste dia da proclamação da República brasileira.
Juscelino V. Mendes
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